O QUE FAZER QUANDO NÃO SE TEM NADA A FAZER?


Embora exista a ideia corrente de que é extremamente importante estarmos sempre fazendo alguma coisa, produzindo, inventando, inovando, investindo em nosso tempo e em nossa imagem, "fazendo a fila andar", como se costuma dizer, é fundamental perceber que os grandes momentos de criação estão intimamente ligados aos períodos em que supostamente alguém não estava fazendo nada de especial.

Lembremo-nos de Newton e sua famosa maçã: a mais popular depois da de Eva no paraíso bíblico e, talvez, daquela da bruxa de Branca de Neve, sem contar a da Apple, claro! Esse conhecido episódio revela um gênio descansando debaixo de uma árvore fazendo... absolutamente nada! Mas o fato é que não faltam exemplos que evidenciam a importância do ócio como fonte de inspiração e criação.

Um ponto importante a se ressaltar é o da confusão gerada entre o estar ocioso e o ser preguiçoso. Embora ociosidade e preguiça possam se confundir no dicionário, podem ser vistas como atitudes diferenciadas quanto à intenção e à motivação. Enquanto o ócio promove a criação e a expansão do entendimento, a preguiça é um estado cerceador e limitador que gera incapacidade e negligência. E se a ociosidade faz parte do nosso DNA, por outro lado, basta observarmos com atenção nossa trajetória como civilização para nos certificarmos de que o trabalho tornou-se uma constante em nossas vidas. 

Quando transportamos essas conjecturas para o universo do Yoga, é interessante lembrarmos que uma de suas mais concisas e melhores concepções é a que o caracteriza como ação na não-ação: externamente sem fazer nada e internamente agindo vigorosamente: esse é o retrato descritivo de uma pessoa em estado meditativo; esse também é o retrato de um sábio que atingiu o estado de iluminação. Mesmo porque, movimentar-se muito não significa movimentar-se bem. Em realidade, a legítima ação pode prescindir do movimento. No Yoga, essa é uma concepção que deve ser delicadamente avaliada, ou seja: a/o sadhaka deve analisar se sua sua prática demanda muita movimentação e pouca ação. 

Toda vez que reflito sobre esse tema em relação ao meu yogasadhana, com extremo respeito e reverência, procuro imaginar alguém entre os grandes Yogis que sempre me dava a impressão de que não tinha nada para fazer, e que o fazia perfeitamente bem... E esse imenso Yogi, cuja imagem me vem instantaneamente à mente, é Ramana Maharshi  - o grande sábio de Arunachala, Tiruvannamalai, no Sul da Índia.

Ramana nunca deixou sua cidade do coração, nunca teve mestres, nunca desejou discípulos, nunca escreveu uma linha, nunca falou mais do que o estritamente necessário e foi, é e sempre será um exemplo praticamente inigualável no Yoga, bem como na valorização da importância de se saber exatamente o que fazer quando aparentemente não se tem nada a fazer.