Iyengar conta como começou a praticar
O trecho a seguir, com tradução minha da entrevista original de BKS Iyengar (1918-2014) concedida à revista norte-americana Yoga Journal, é um útil e inspirador depoimento.
"Na verdade, eu nunca achei que esse fosse um assunto que me dissesse respeito. Foi só por uma coincidência que, em 1934, meu guru Krishnamacharya – marido de minha irmã – foi a Lonavla. No caminho, ele parou em Bangalore para me visitar e me perguntou: "Por que você não visita sua irmã em Mysore e fica lá até eu voltar?" E Mysore tinha belos jardins e palácios e tudo o mais – os quais eram muito atraentes para um jovem como eu. Então, o que me atraiu foi isso – visitar Mysore – e eu aceitei. Quando ele voltou, após ter visitado Lonavla e Bombaim, eu lhe perguntei: "Devo voltar para casa para estudar?" E ele me disse: "Por que você não fica na escola daqui mesmo? Elas são iguais. Por que você não estuda aqui?" E para mim, tanto fazia ficar com minha irmã ou com meu irmão – não tinha diferença nenhuma. Eu perdi meu pai ainda muito jovem. E criar filhos não-legítimos era uma tarefa difícil para qualquer família, pois a esposa de meu irmão já tinha seus próprios filhos e, naturalmente, o desejo deles era criar seus próprios filhos e não a mim. Então, fiquei na escola em Mysore.
Ele não me ensinou Yoga durante uns seis ou oito meses. Então, um belo dia, ele disse: "Por que você não faz alguma coisa? Vamos lá!" Eu disse que estava sofrendo de tantas doenças. Ele disse: "Faça Yoga." Mas nunca me ensinou o que fazer. Finalmente, um dia, ele me chamou: "Faça isso, faça aquilo, faça aquilo outro." Mas meu corpo parecia um pedaço de madeira seca. Ele tentou me ensinar alguns asanas. Mas eu não tinha nenhuma flexibilidade. Então, ele parou de tentar me ensinar e disse: "Seu corpo é tão duro, que você só vai fazer o que conseguir, e só isso." Portanto, foi desse jeito que começou meu aprendizado.
Depois de mais seis ou oito meses, ele foi convidado a fazer uma demonstração na Conferência Indiana da YMCA, realizada em Mysore. Acho que isso o abalou um pouco, porque não tinha ninguém para fazer as posturas mais difíceis. Então, ele me chamou. Durante três dias, ele "quebrou" minhas costas e disse: "Você tem que fazer essa demonstração." Ele só me ensinou durante três dias e a demonstração era em uma semana.
Eu não fui feito para o Yoga. Ele só me fez praticar porque havia exibições a dar. Se não houvesse exibições, provavelmente ele não teria me ensinado. Penso que meu campo de atuação não teria, em absoluto, sido o Yoga."
