A SINFONIA UNIVERSAL DA CRIAÇÃO


Krishna é considerado o Senhor do Yoga e tem em Arjuna seu dileto discípulo. Ao tocar sua flauta melodiosa, Krishna produz uma música que arrebata os corações de todos que a ouvem, pois sua melodia é designada como sendo a do coração. E é essa também a melodia do imenso Bhagavad Gita, onde Krishna instrui pela linguagem do coração.



Muitas interpretações foram dadas ao Gita, mas a que sempre me fala mais alto é a que simboliza a grande batalha dentro do coração de Arjuna. Muito mais do que o gigantesco e sangrento confronto físico, o Gita nos remete às profundezas dos mistérios que habitam o coração de cada indivíduo. Sua linguagem é, pois, a linguagem do coração. Linguagem essa que transcende critérios de espaço e de tempo, pois, em essência, o Gita é atemporal, é como uma lacuna, uma brecha preciosa de imortalidade que se abre dentro do gigantesco Mahabharata - o grande épico da Índia, cuja autoria é atribuída ao sábio Vyasa.

A unificação proposta pelos sistemas de Yoga está aí resumida pelo próprio Krishna - o cessar de todas as dualidades da existência como forma de transcender o sofrimento. Tais palavras não encontram ressonância a não ser no coração, pois quem quer que racionalize sobre as mesmas, não obterá, por assim dizer, o sucesso almejado. A esse respeito, expressou-se Mahatma Gandhi num ensaio que escreveu sobre seu amado Gita :

"O Gita canta os louvores do conhecimento, mas está além do simples intelecto, pois é essencialmente endereçado ao coração e só é capaz de ser entendido pelo coração."

Pode-se dizer que o ritmo essencial do Bhagavad Gita é ditado pelo coração universal em direção ao coração individual. Esse ritmo nos mantém a todos unidos numa cadência que o grande maestro Krishna orquestra de forma precisa. Talvez por isso, ele tenha se expressado através de uma canção divina - exatamente para estabelecer contato direto com cada um dos minicorações que formam a sublime sinfonia universal da criação.