A NOBRE ARTE DO SILÊNCIO


“Mouna não significa calar a boca. É a fala eterna. Esse estado que transcende a fala e o pensamento é Mouna.” Ramana Maharshi

Ficar em silêncio é essencial, embora pareça ser uma tarefa hercúlea, praticamente impossível de se realizar. Podemos até ficar sem pronunciar palavras ou emitir sons durante certo tempo, mas a cabeça, essa não pára nunca de tagarelar. Por isso, ficar com a boca fechada, sem falar, não significa a mesma coisa que praticar a nobre arte do silêncio.

É bastante comum confundir-se o não ter nada a dizer, seja por desmotivação, por preguiça, por incapacidade intelectual, por intimidação, por timidez, por falta de argumentos ou mesmo por traumas e distúrbios, com ficar em silêncio por opção, sensibilidade, inteligência.

Fazer silenciar pelo uso da força e da admoestação, bem como pelo abuso de poder, é das formas mais brutais de violência e de cerceamento da liberdade de expressão. Por outro lado, falar tudo o que se pensa, sem uma triagem contextual e reflexiva, concomitante com a situação e o momento, não é ser autêntico, carismático, sincero e muito menos verdadeiro: é apenas uma outra forma -- ao que tudo indica, mais aceita na nossa sociedade tão carente de gentilezas e de atitudes éticas -- de grosseria e inconveniência.

Antar Mouna parece nascer no "descanso" do cérebro e atingir as camadas mentais em seus vários níveis e profundidades, predispondo-as à manutenção do silêncio. Mas Antar Mouna nasce especialmente no sentimento do coração, espalhando-se pelo corpo-mente de maneira natural, voluntária, sem imposições. Isso porque, na Filosofia Yoga, não existe uma divisão explícita entre corpo e mente.

Do mesmo modo, som e silêncio não devem ser vistos como antagônicos ou radicalmente separados. O silêncio, em si, não supera a força das palavras que carregam idéias e significações, assim como palavras vãs não conseguem suplantar o fecundo e profundo silêncio que vem do âmago do ser. Porém, é muito importante perceber que: enquanto houver imposições, o essencial silêncio interior não pode existir, assim como a sabedoria das palavras não pode se manisfestar.

Entre calar e falar, valorizemos e aprendamos com os dois. Mas permito-me uma sugestão: naquele momento crítico de indecisão, de dúvida cruel, onde não se tem a menor ideia do que dizer, vale lembrar-se do ditado popular:

"Em boca fechada não entra mosquito."

A bem da verdade, não entra nem mosquito nem nada mais! Porém, o interessante nessa analogia é observar não especificamente o ato de "não entrar", mas o de "não permitir sair".

Concordo que esse é apenas um dispositivo emergencial simplista, porém útil, para que o indesejável "não saia" impensada e abruptamente sob a forma de palavras que podem vir a ferir profundamente um outro ser humano. Mesmo porque, nem sempre quem cala, consente. Algumas vezes, quem cala está apenas exercendo a capacidade de ser consciente.